quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Esquenta Planeta Terra - Pavement

Mal saiu a coleta do Of Montreal e já é hora do Pavement! Mas dessa vez pedi a ajuda do Eduardo, que se empolgou e fez um trabalho muito melhor do que eu faria, olha só:


Se você não caiu nesta página por acaso, após uma pesquisa no Google Images sobre, sei lá, bigodes ou sobre looks bárbaros, você provavelmente sabe que o Pavement foi, depois do Nirvana, a banda mais importante dos anos 90. E que enquanto a segunda varria o mainstream e o mundo com Nevermind, a primeira começava, no submundo, a arrebatar os corações dos, digamos, mais cínicos, com Slanted and Enchanted. Deve saber também que depois de 11 anos de separação, o Pavement resolveu se reunir para uma turnê mundial. Afinal, as famílias estão crescendo e as casas estão ficando pequenas, e, claro, há os que não conseguiram vê-los antes daquele fatídico 20 de novembro de 1999, na Brixton Academy, em Londres, como eu e você.

Stephen Malkmus pendurou um par de algemas no microfone para "simbolizar o que é estar numa banda todos esses anos" (1989-1999) e finalizou o show com uma versão extendida de "Here" (que, graças a um certo verso, entrou para a trilha sonora pessoal de muitos de nós). O clima da apresentação é terrivelmente tenso e parece que o ar vai esmagar todo mundo. Só quem esteve lá poderia saber, ou pelo menos desconfiar. O submundo só teria certeza mesmo alguns meses depois.



Afora, talvez, o parágrafo anterior, até aqui, nada de novo. O que você, possivelmente, ainda não reparou é que o show do Pavement no Brasil ocorrerá aos mesmos 20 de novembro, desta vez, de 2010; exatos 11 anos desde o so long na Inglaterra.

Para promover a volta e ouriçar os fãs, o Pavement lançou no início do ano a coletânea "Quarantine the Past: The Best of Pavement". Acontece que nós demos pela falta de algumas músicas e não entendemos a inclusão de outras ali, certo? Portanto resolvemos criar a nossa própria coletânea: "It's a Brand New Era: The Second Best of Pavement". Afinal, nós adoramos Pavement e adoramos listas.


Seguimos a mesma lógica do lançamento oficial: mesclamos outtakes e lados-b aos "hits" em iguais 23 faixas. Confira uma a uma:

Newark Wilder
Quinta faixa do preferido-por-muitos Crooked Rain, Crooked Rain, de 1994. De certa forma ofuscada pelos hits Cut Your Hair, Gold Soundz e Range Life, Newark Wilder, com seu vocal arrastado é puro Pavement. Tem o verso que dá nome à coletânea.

Painted Soldiers
Embora Stephen Malkmus tenha dito que não é um control freak, nós sabemos que isso não é exatamente verdadeiro. Ele deixava Spiral Stairs cantar uma aqui e outra ali apenas. Não por acaso, Terror Twilight (1999), o álbum derradeiro, não conta com nenhuma faixa com Spiral nos vocais, como vinha sendo de costume nos dois anteriores, nos quais o guitarrista ganhou uminha. Como em "Quarantine" aparece a ótima "Date w/ IKEA", colocamos aqui a contagiante "Painted Soldiers", que foi lançada originalmente na OST de Brain Candy (do grupo de comédia The Kids in the Hall), que é composta só de bandas da Matador. O clipe é uma piada e mostra um Spiral dotado de poderes que só um videoclipe poderia lhe dar. Duas curiosidades: o Pavement "repaginado" originalmente seria o Weezer, e não o Veruca Salt (fala se isso não teria sido incrível!?). E o Bob Nastanovich realmente agencia corridas de cavalos nas horas vagas. Inclusive nas muitas que ele teve durante os últimos dez anos.



Conduit for Sale!
A faixa 5 de Slanted and Enchanted (1992) tem uma narrativa que eu me recuso a analisar. Ao vivo, serve pra mostrar uma das utilidades de Bob Nastanovich, muito questionado sobre seu papel no Pavement. Público e banda parecem sempre se divertir com ela nos shows.



Give it a Day
Lançada no EP Pacific Trim, que foi gravado às pressas pra coincidir com uma turnê, em 1996, pelo circuito do Pacific Rim (Japão, Austrália etc.). Caberia facilmente ali na segunda metade do Wowee Zowee (1995), o que aliás, convenhamos, não é muito um parâmetro. A música é foda e a letra, bem divertida.

Starlings of the Splitstream
A primeira da nossa lista que faz parte da excelente segunda metade do fenomenal Brighten the Corners (1997). Tem o clássico jogo de palavras: "Starlings in the slipstream/ Darlings on the split-screen" e as imagens pra lá de curiosas: "Slavic princess with a rose in her teeth/ Do you suppose she would bite you if she could?/ Insane cobra split the wood/ Trader of the lowland breed". Maravilha sonora.

Rattled by the Rush
Essa não poderia faltar. Quem não se lembra do clipe? Rolava direto no Lado B, da MTV. Aqueles movimentos de câmera que causam vertigem, enquanto a banda toca no metrô por alguns trocados. Qualquer relação com a posição que o Pavement ocupava, ou acreditava ocupar no cenário musical da época não deve ser mera coincidência.



Silence Kit
Faixa que abre Crooked Rain, Crooked Rain. O nome da música deveria ser, realmente, "Silence Kid", o que faz muito mais sentido. Dizem que o artista gráfico do disco se embananou com uma mancha de tinta e acabou tendo que converter o d em um t, para não perder o trabalho. A história, que corre entre os fãs da banda, tem tudo pra ser verdadeira, já que no selo do disco já aparece "Silence Kid". E em se tratando de Pavement, não seria por esse errinho que o cara teria que fazer tudo de novo.

Major Leagues
Essa é uma que tinha tudo para estar em "Quarantine": é single, tem clipe (dois, inclusive) e é das grandes favoritas dos fãs. Mas não tem problema, porque ela está aqui ;)



AT&T
AT&T é uma das maiores empresas de telefonia/internet/etc dos EUA e eu não tenho a menor ideia de por que esse é o nome da música. Os versos parecem ter sido gravados à medida que iam surgindo na cabeça do Malkmus, como, aliás, em muitas outras, especialmente em Wowee Zowee.

Old to Begin
Uma das várias letras ambíguas de SM. É tanto autoironia apoiada no clima negativo/pessimista que permeia Brighten the Corners: "Embrace the senile genius/ Watch him reinvent the wheel", quanto a pouca fé no Casamento: "You get to feeling like a fixture/ Set in 1966 - time came that we drifted apart/ Drifted apart to find an unidentical twin". A menção ao seu ano de nascimento não parece ser aleatória: a crise dos 30 parece ter pego Malkmus em cheio.

Grave Architecture
Faixa 11 de Wowee Zowee, é uma das mais características do disco. Com uma estrutura maluca e uma letra que parece ser uma resposta à cobrança direcionada aos slackers, a música é uma das melhores do Pavement.

Baptiss Blacktick
Única representante de Westing (By Musket & Sextant) (1993), é também característica do disco de que faz parte. Westing compila faixas dos primeiros EPs, lançados entre 89 e 93, e beira o inaudível. Tem, como exceção, as ótimas "Box Elder", "Debris Slide" e "Angel Carver Blues/Mellow Jazz Docent", que não por acaso entraram em "Quarantine" (a última, apenas a segunda parte).

Harness Your Hopes
Ah, Harness Your Hopes... A maior falta em "Quarantine" fez essa música. Considerada em larga escala como uma das favoritas dos fãs, essa faixa é tão conhecida entre nós graças à Trama, que a incluiu como bonus track da edição brasileira de Terror Twilight, junto com "Roll With The Wind" e "The Porpoise and the Hand Grenade", lançadas nos EUA apenas no lado-b do single de "Spit on a Stranger".

Blue Hawaiian
Mais uma das letras enigmáticas de SM. Tem os ótimos versos "If my soul has a shape, well, then it is an ellipse/ And this slap is a gift cause your cheeks have lost their lustre" e "Aloha means 'goodbye' and also 'hello'/ It's in how you inflect". Faz parte da já mencionada segunda metade de Brighten the Corners.

Carrot Rope
Faixa que encerra a edição americana de Terror Twilight. É bem divertida e tem um clipe muito massa. Tem as duas únicas palavras que o Malkmus deixou o Spiral cantar no disco.



Father to a Sister of Thought
Com um climão country dado por uma slide guitar, a música mais cuidadinha de Wowee Zowee ganhou até clipe. Os meninos vestidos de cowboy tentam amamentar bezerros e fingem trabalhar na terra enquanto SM tenta se equilibrar num rollerblade. O clipe arrancou várias risadas da banda na versão com comentários presente no DVD Slow Century, lançado em 2002. Se você não tem, tá dando bobeira.
Poderia estar também em "Quarantine".



Platform Blues
Platform Blues é um dos pontos altos de Terror Twilight. Tem participação de Jonny Greenwood na gaita. Aliás, vale lembrar que Terror Twilight foi produzido pelo sexto-radiohead Nigel Godrich.

Type Slowly
Divide Brighten the Corners ao meio. Mais uma vez imagens inusitadas (snipers, trolls, cigar incandescent guillotines) na letra bem rimada, e um instrumental perfeito. Uma das melhores do disco.

Zürich is Stained
Uma das mais populares de Slanted and Enchanted, distoa um pouco do restante do álbum. Poderia estar em Crooked Rain, Crooked Rain.

Transport is Arranged
Estou pra bater o martelo e taxar essa como a melhor música do Brighten the Corners. Mas não é tão simples. Em termos de letra, algumas coisas passam batido, mas chamam a atenção os versos "A voice coach taught me to sing, he couldn't teach me to love" e "Praise the grammar police, set me up with your niece". Novamente, instrumental impecável.

Cream of Gold
Sempre vi nessa música um quê de macabro. Acho que muito pelo verso que se repete várias vezes: "I bleed in beige why'd you leave me so far now". A letra parece ser basicamente sobre o fim de um relacionamento. O clima é tenso. Talvez seja a que faz mais jus ao título do disco: "Terror Twilight", ou "o período do dia entre o pôr-do-sol e o anoitecer, em que metade dos motoristas ligam os faróis e metade não. É quando a maioria dos acidentes acontecem", explicou Bob Nastanovich, quem criou o título. E é estranho mesmo, os olhos não se ajustam direito à mudança na luz. É tenso.

Stop Breathin
Metáforas oriundas do tênis, esporte de que Malkmus é entusiasta, guitarras dedilhadas soando desafinadas e o verso "Write it on a postcard/ Dad they broke me". Uma das mais significativas de Crooked Rain, Crooked Rain.

Fin
Puta merda... Também conhecida como "Infinite Spark", essa música fecha o álbum Brighten the Corners e a nossa coletânea. Quando ouço, me vem sempre à mente um sujeito caminhando rumo a um muro para seu fuzilamento. Acho que é a bateria em ritmo de marcha. Enfim, o sujeito caminha e pára junto ao muro lá pelo meio da música e espera pelo seu fim, que chega aos 3:28, quando entra o solo de guitarra: o sujeito vai caindo em câmera lenta.
É uma música subestimada, de um disco subestimado, de uma banda subestimada. Falando em mainstream, claro. No submundo, é unanimidade. O Pavement merece o dobro, o triplo da atenção que o Smashing Pumpkins, por exemplo, teve em toda a sua carreira. O show do Pavement será o evento do ano, possivelmente, da década, no Brasil e quem não for, vai ficar com cara de abóbora.

10 comentários:

jr. disse...

Linda lista, Painted Soldiers foi especial. E Here sempre será de chorar.

Priscila Rezende disse...

Adorei, meu passatempo favorito é interpretar versos pavementianos. :)

André Pugliesi disse...

Fantástico trabalho!!! E eu sei que cada um com a sua própria coletâna, não quero me intrometer. Mas eu jamais deixaria fora Grounded e Greenlander.

Taís Toti disse...

haha a gente sempre acha que faltou uma ;)

Eduardo disse...

Oops, me esqueci que "Passat Dream", do Brighten the Corners, também é do Spiral.

Luan disse...

muito bom, gostei muito da coletânia. Faltou Kennel District, ficou muito foda a seleção.

Anônimo disse...

alguém sabe onde baixar o DVD Slow Century de Pavement, procurei tudo, mas não encontrei, estou doido pra ver. Abraços a todos. Pavement é o melhor!

outropseudonimo disse...

"O Pavement merece o dobro, o triplo da atenção que o Smashing Pumpkins, por exemplo, teve em toda a sua carreira. "

Fiquei realmente comovido rapaz.
O pavement não só é a banda mais importantes dos 90s, depois do nirvana, como também é uma das mais injustiçadas e subestimadas de todos os tempos.

Eduardo disse...

Valeu todo mundo que parou pra comentar! Foi um post muito legal de fazer. Filtrar Pavement é muito difícil né, e a ideia era não repetir nada de Quarantine the Past. Tô subindo o Slow Century pro Hotfile. Volta aí depois pra pegar os links ;)

Pedro Palazzo Luccas disse...

Somente hoje achei esse post. Vi o primeiro show que fizeram na Argentina, numa boate minúscula. Uma coisa inesquecível.
E esse link pro Slow Century, tá rolando?