segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Entrevista Dirty Projectors

Mais uma pro JB, saiu domingo:

Foram precisos oito discos (entre eles EPs, um só de versões do grupo hardcore setentista Black Flag e outro sob nome diferente) e várias trocas de integrantes para que o Dirty Projectors, banda americana que se apresenta hoje no Teatro Odisseia, chegasse à sonoridade alcançada em Bitte orca, último disco da banda, lançado este ano, e classificado por muitos como melhor álbum de 2009 (tirando o favoritismo, ao menos no mundo indie, do aclamado Merriweather post pavillion, do Animal Collective).

– É louco isso. Eu não tenho ideia se Bitte orca é realmente o melhor disco de 2009. Estamos fazendo essas coisas há muito tempo. É gratificante, tivemos uma resposta muito positiva. Não sei o que pensar sobre isso – diz Dave Longstreth, criador, compositor e mentor da banda (o primeiro disco, de 2002, The graceful fallen mango, foi lançado sob seu nome).

O título que deve figurar no topo das listas de melhores do ano – ao menos nas de indie rock – causa bastante estranhamento, mas Longstreth esclarece:

– Bitte orca é tipo uma frase inventada. Bitte é alemão, uma palavra para designar “por favor”, e orca é a baleia assassina. Não tem um significado, nós gostamos do jeito que soa, as duas palavras juntas.

O som do DP (as iniciais da banda fazem uma brincadeira com “double penetration”, a conhecida dupla penetração do universo pornô) não se encaixa facilmente em qualquer rótulo conhecido do supermercado musical. Uma das diversões da banda é, exatamente, subverter os rótulos mas de um jeito inovador. Experimental? Eletrônico? Indie pop? Rock de vanguarda? Todos, e nenhum, podem ser usados para definir a banda.

Ao ouvir Bitte orca é impossível não notar a importância das vozes na música do grupo Dirty Projectors. Além de Longstreth, a banda também conta com três vocalistas: Amber Coffman, Haley Dekle e Angel Deradoorian (que acaba de lançar um EP solo). Uma constante no disco são as harmonias vocais feitas pelos quatro. Não por acaso, Longstreth já chegou a dizer que a voz é seu instrumento favorito.

– Acho que isso é uma verdade para a banda agora, mas não há um favoritismo, eu gosto das coisas cada uma em seu momento, não acho que as vozes são mais especiais que as guitarras ou outros instrumentos. Mas eu gosto da voz.

Bitte orca foi lançado em várias mídias, incluindo, além do tradicional CD e do cada vez mais comum lançamento digital, versões em cassete e vinil. Para o vocalista, a sonoridade do cassete combina com a música da banda:

–Foi por isso que nós resolvemos lançar o disco assim também.

E qual a diferença ao ouvir o mesmo disco em mídias diferentes?

– Não sei, o que você acha? – retruca Longstreth.

Difícil saber, já que não só a fita cassete, como nenhuma das “versões” de Bitte orca, foi lançada no Brasil.



Os ritmos africanos, mesmo que de um jeito sutil, estão cada vez mais presentes no indie rock. Assim como o Vampire Weekend – cujo vocalista já foi membro do DP – Dave Longstreth diz que é influenciado pelos estilos musicais da África. Mas, na hora de explicar exatamente o que essa influência trouxe para a música do Dirty Projectors, Longstreth devaneia:

– Uma sensação de espaço... fora do espaço, não sei. Só densidade e espaço.

Talvez as palavras sejam mesmo piores para definir o tempero afrobeat do DP do que a audição de Cannibal resource, música que abre Bitte orca. Sobre as outras inspirações e influências na hora de compor, Longstreth também não é muito específico:

– Não sei, simplesmente faço o que eu faço, o que está na minha mente... Normalmente o que eu gosto acaba se transformando na música.

Muitos acreditam que a localização geográfica pode ser uma das influências do DP. Ou, ao menos, uma fonte de criatividade, já que a região do Brooklyn, em Nova York, está se tornando o celeiro do rock. O local é origem não só do Dirty Projectors, mas de outros nomes do gênero que vem despontando atualmente, como MGMT, Grizzly Bear e Yeasayer. O Brooklyn está se tornando a nova Seattle – a cena musical de lá já ganhou até um festival em homenagem, o Brooklyn Bridge, que aconteceu em São Paulo há duas semanas.

– Não sei se há realmente uma cena do Brooklyn. Mas é certo que muitos dos nossos amigos são pessoas de bandas daqui – diz Longstreth.

Se há uma influência que o líder do Dirty Projectors não nega é a de David Byrne. A banda gravou, no começo do ano, a música Knotty pine, em parceria com o ex-Talking Heads, para a compilação Dark was the night, que inclui mais 30 músicas inéditas de outras bandas indie.

– Ele foi muito legal. Nós amamos a obra dele, escuto desde os 10 anos de idade. É uma fonte constante de inspiração.

Seis não é demais

Inicialmente um projeto de Longstreth, o Dirty Projectors já passou por algumas modificações até chegar a formação atual, com Nat Baldwin (baixo), Brian Mcomber (bateria), Haley Dekle (vocais), Amber Coffman (vocais e guitarra) e Angel Deradoorian (teclado, guitarra, baixo e vocais). Angel entrou no lugar Susanna Waiche, que saiu após Rise above, disco de 2007 que é uma reinterpretação do álbum Damaged, do Black Flag, através das lembranças de Dave Longstreth após 15 anos sem ouvir o disco. A vocalista Haley Dekle foi a última “aquisição” da banda, que tem uma lista de 12 ex-membros. Mas foi tão difícil encontrar as pessoas certas para a banda?

– Acho que eu não tive que pensar tanto. Nós formamos uma banda consistente agora, acho que eu só queria encontrar músicos que tocassem as músicas que eu componho. A banda agora é como uma família, você pode contar com as pessoas do grupo. E você se acostuma com tanta gente na banda.

Quem espera, ansioso, a sequência do sucesso de Bitte orca, é bom saber que a banda está mais concentrada nos shows.

– Não estamos trabalhando num novo disco, acabamos de lançar o Temecula sunrise (EP que saiu em setembro).

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