Esqueça o hype, a precocidade ou qualquer outra besteira repetida inúmeras vezes pela internet. Mallu Magalhães é uma cantora, e em seu recém-lançado segundo disco ela mostra que é isso que prevalece. Após o burburinho, ela mostra que está consolidando uma carreira, independente da atenção da mídia.
– Me sinto numa posição mais profissional, como se fosse uma caminhada como artista – reflete a cantora, revelada no ano passado pelo Caderno B, agora com 17 anos. – Antes eu fazia aquilo de brincadeira, como uma aventura, não era sério. Hoje encaro como profissão, eu trabalho para isso, dedico meu dia todo para a música.
Na época do primeiro CD, Mallu recebeu propostas de várias gravadoras, mas recusou todas em prol de sua liberdade artística e lançou o disco de forma independente. Agora, Mallu Magalhães, o segundo (com o mesmo “nome” do primeiro), sai pela major Sony Music – mas a cantora garante que a gravadora não a “prendeu”.
– A Sony foi a primeira a me oferecer a possibilidade de manter a minha alma independente mas também de ter a força de uma gravadora – destaca. – O contrato também foi feito depois que o CD já estava pronto, por isso que tive total liberdade; primeiro fiz, depois negociei com a gravadora.
Quem ouvir o segundo CD vai encontrar uma Mallu que canta bem mais grave – quatro tons abaixo, para ser mais exata.
– Encontrei um jeito de cantar que não machuca minha garganta – frisa a cantora que, já no início da carreira, está com um cisto nas cordas vocais.
As mudanças do segundo para o primeiro o disco não são apenas nos vocais, mas nas referências.
– Um monte de coisa mudou, um ano se passou, tive mais experiências, tanto na vida pessoal como na profissão. Aprendi várias coisas, e acabei ouvindo outras.
A bagagem extra rendeu flertes com outros estilos além do folk e do rock, como valsa (É você que tem) e reggae (Shine yellow, a primeira música do disco a ganhar um clipe). As letras em português, que já faziam parte do repertório de Mallu mas não haviam entrado no primeiro disco, também ganharam (muito) espaço na segunda gravação: seis das 13 músicas são na língua pátria.
– Realmente me sinto mais livre, estou me permitindo mais cantar em português – diz, reconhecendo que, de alguma forma, se expõe mais assim do que com o inglês.
Wannabe Audrey
Afinal, é a vida de Mallu Magalhães que está ali, nas canções.
– Faço as letras inspirados no cotidiano, nas minhas sensações e nos acontecimentos. Mas não é só uma experiência pontual que está ali.
Em Nem fé nem santo, ela pede “que me deixem em paz”, e tem uma conversa sincera com a mãe em Make it easy. Mas é o amor que percorre a maior parte do álbum, como já revelam os títulos Soul mate, Te acho tão bonito, My home is my man, É você que tem e You ain't gonna loose me. Sinal de que o relacionamento com o hermano Marcelo Camelo vem inspirando as letras – e também influenciando nas músicas, como reconhece Mallu.
– Sempre fui muito fã dele, desde o Los Hermanos até o disco solo. A influência musical existe e também a influência pessoal, falo em relação ao namoro. Ela é diluída no disco, mas é bem perceptível.
Mas, com exceção da bossa Versinho de número um, em que a influência de Camelo parece se concentrar, e em Compromisso, que conta inclusive com assovios do cantor, Mallu continua sendo Mallu, com a voz delicada, a sinceridade e a espontaneidade que passa até pelas gravações – fato que o produtor Kassin preservou, ao mesmo tempo em que explorava backing vocals e instrumentação complexa, num CD com cara de “gente grande”. Segundo a cantora, o trabalho com Kassin foi bem diferente de gravar com Mario Caldato, produtor do primeiro disco.
– O Mario pegou um trabalho que já estava meio pronto, eu já havia tocado aquelas músicas várias vezes. O Kassin acompanhou a gente nos ensaios, estava lá desde o começo, e isso foi super legal porque ele podia ir lapidando, dando dicas, sugestões, e melhorando algumas coisas – compara.
Responsável pelas colagens que decoram o disco, e se preparando para gravar o primeiro clipe do álbum, Mallu Magalhães diz que é “uma pitaqueira” em todas as áreas de seu trabalho.
– Acho isso super importante. Me entendo como artista, que fica se expressando onde derem espaço, então fico ligada na direção de arte, na fotografia. Só não deixo de respeitar os profissionais, acho importante escutar.
No ano que vem, Mallu começa o 3º ano colegial, mas, diferente dos outros alunos, o vestibular não está em seus planos.
– A faculdade seria um complemento interessante. Quem sabe mais tarde, não tenho nenhuma pressa e também não me cobro.
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